Margarete: um ato de amor pelo neto autista

Há alguns dias vinha procurando uma história sobre crianças autistas para contar aqui no blog nesse dia 2 de abril, dia escolhido para ser o Dia Mundial da Consciência do Autismo.
Lembrei do meu primo Marcelo, pai do Victor e pedi que ele me contasse um pouco de como é a sua rotina com o filho. Para minha surpresa a resposta foi: “prima, fala com minha ex-sogra, ela sim merece estar aqui no teu blog hoje”.
E então fui conhecer a história da dona Margarete, avó materna do Victor. E entendi o que ele quis dizer.
Aos 55 anos de idade, Maria Margarete Batista Schumann , casada há 35 anos, moradora de São Leopoldo é aposentada e poderia estar em casa vendo a novela como ela mesmo brinca, mas ao ter o neto Victor, hoje com 9 anos, diagnosticado com autismo viu que poderia fazer mais por ele do que apenas cuidar e alimentar enquanto os pais trabalhavam.
Triste em ver que o neto não era completamente assistido na escola – onde a cada dia vinham mais e mais reclamações sobre o comportamento dele – e que a cada dia ele voltava mais desestimulado, resolveu voltar a sala de aula para poder ajudar mais o neto e ter o conhecimento necessário para questionar as normas e regras impostas na escola.
Fez EJA (Educação de Jovens e Adultos) para recapitular o tempo que estava sem estudar, cursou Pedagogia e passou a aplicar seus conhecimentos em casa, com o neto.
No Facebook, criou o grupo Autismo em Casa, onde divide com outras famílias as atividades e ensinamentos que passa ao neto.
“Claro que eu sei que a criança austista precisa de um acompanhamento médico, psicológico, fisioterapeutico, mas eu comecei a perceber que a criança autista faz todo esse acompanhamento na escola, na clínica, mas esquecem de ensinar as tarefas diárias que os fazem se sentir úteis, como guardar as suas roupas, varrer a casa, fechar uma porta, fazer uma coisa pra comer, juntar um papel do chão… ou seja, ajudar em alguma tarefa para se sentirem incluídos. Esse estalo me deu quando vi meu neto na minha volta enquanto eu cortava uma cenoura na cozinha. Ele ria e batia palmas como se dissesse que estava querendo ajudar. Dei a faca e a cenoura pra ele e disse: corta para a vovó. Ele achou o máximo! E foi assim que fui introduzindo essas tarefas para ele no dia a dia. Pois hoje desconheço alguma terapia que ensine isso. E é isso que quero, ensinar o máximo de coisas que eu puder para tornar ele menos dependente, para que, quando eu me for, ele possa se virar sozinho, na medida do possível. Infelizmente vai ser dependente uma vida toda, mas poder se virar melhor.”
Há oito meses Victor ganhou uma irmazinha, a Manuela, que hoje é a alegria da vida do pequeno e da família.
“Foi uma das coisas que mais pedi a Deus. Eu sinto o Victor muito sozinho, pois infelizmente na escola, as crianças rotuladas como “normais” se afastam dele. Uma que outra fica um pouco, mas logo sai. E não adianta a gente querer mascarar isso, pois é assim que acontece mesmo. E se eu te falar a reação dele com a irmã, é de encher o coração.. superou as minhas expectativas. Ele mudou desde o nascimento dela, noto que está forçando mais a fala para se comunicar com ela, encosta o rostinho para fazer carinho, faz questão de tocar, olhar e sorrir para ela.”
Para Margarete o maior problema hoje é a falta de conhecimento das pessoas e a real inclusão dessas crianças ao mundo.
” As pessoas tem medo, parece que criam barreiras pois pensam que autistas são agressivos.
As escolas reclamam o tempo todo, não estão preparadas para receber essas crianças. E nem culpo as professoras, o governo não dá estrutura para isso, querem apenas cumprir lei. Inclusão não é só dar vaga na escola, é preparar os profissinais para atenderem essas crianças. Teve uma vez que eu soube que teria uma festa para as crianças na escola e mandaram o Victor para casa. Questionei o porque e me disseram que ele não iria gostar do barulho. Bati pé, pedi permissão para a direção e fiquei com ele que se divertiu muito, claro que do jeito dele, mas se divertiu. ”
Agora, há 3 semanas de se formar Margarete diz que essa é uma das maiores conquistas de sua vida. “Não só pela minha idade, mas claro, por poder fazer mais pelo meu neto. Agora eu estou a par das leis, do que ensinar pra ele”, comemora.
Com o diploma na mão, o sonho dessa avó é construir um local que seja pensado e preparado especialmente para receber os autistas e para isso está buscando ajuda de profissionais e governantes. A ideia é construir um espaço onde a criança autista possa interagir com outras crianças, brincar, fazer uma atividade física, cuidar da saúde e ter um espaço de recreação como todos os outros.
“Hoje Victor não fica o turno integral na escola. Antes mesmo do recreio, da hora do lanche eles já mandam ele para casa. Como ele vai participar das coisas assim? Como vai ser estimulado a estar com as outras pessoas? Vai passar a vida toda terapia – escola- casa – terapia – escola. O tempo vai passar e ele vai ficar adulto e não fez nada da vida? Se depender de mim: NUNCA!”